sábado, 21 de novembro de 2009

Crime em Barqueiros, por José Santos Alves‏

"O povo quer falar, o presidente da Assembleia acha que não, que é preciso respeitar a lei! E o presidente da autarquia, que até era dos poucos que ainda se aproveitava, entende agora que a conquista da maioria absoluta dá para tudo"
Desde que a Junta de Barqueiros decidiu vender, por cinco reis de mel coado, o centro cívico da freguesia a uma empresa privada que tem um passado pouco recomendável no que respeita à falta de consciência ambiental, já ouvi muitas opiniões e disparates para justificar a negociata. Mas, pelo menos até agora, ainda ninguém me conseguiu convencer de que por detrás da decisão há razões que a razão desconhece. O defeito pode ser meu, reconheço-o. Se calhar é da idade ou do meu reconhecido mau feitio. Afinal, quanto mais tempo cá ando mais vou desconfiando. Não do povo, porque esse, por regra, deixa-se embalar pelas falinhas mansas dos vendedores de promessas e embarca na conversa dos senhores do poder. Antes daqueles que, há cerca de vinte anos atrás, histericamente se pavoneavam à frente das manifestações contra as explorações de caulinos e agora se transformaram em defensores oficiosos do crime e espiões fotográficos ao serviço de forças ocultas. Tudo isto, porém, é feito dentro da maior legalidade e cumprindo com as mais elevadas regras da nossa peculiar democracia: a oposição questiona, o poder não responde! O povo quer falar, o presidente da Assembleia acha que não, que é preciso respeitar a lei! E o presidente da autarquia, que até era dos poucos que ainda se aproveitava, entende agora que a conquista da maioria absoluta dá para tudo – até para prejudicar a população que deveria defender. Os menos atentos poderão pensar que estou a falar de Fernando Reis – homem que nos tinha habituado a estas atitudes e respostas. Mas não. Estes são dos novos. Dos que chegaram agora ao poder e em tão pouco tempo já adquiriram os mesmos tiques.
Aprenderam depressa!
O mais grave, no entanto, é que dois dos principais protagonistas desta estranha forma de democracia já se acantonaram na Câmara. Um na área do ambiente – vejam lá a ironia! – o outro como adjunto do presidente.
Miguel Gomes – admito-o – não terá condições para evitar a força do aparelho partidário e terá que gramá-los, mas pode fazer mais do que se limitar a dizer que vai cumprir a lei. A um pode-lhe dar o lugar do senhor Luís (com direito a farda se necessário for) e ao outro – se ele gosta de ambiente – pode-o pôr a tomar conta do Jardim das Barrocas.
Razão teve o presidente da Junta de Vila Seca quando se candidatou como independente. Eu, no lugar dele, até tinha feito pior.

Artigo publicado em Barcelos Popular 19/11/2009